DICA DE LEITURA: “MADRUGADA, AINDA”, DE HELOÍSA SEIXAS

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A dica de hoje do jornalista Anderson Olivieri – responsável pela comunicação do Cartório de Sobradinho – é o conto “Madrugada, ainda”, da escritora carioca Heloísa Seixas:

Na sala, agora silenciosa, você observa os destroços da festa. Cinzeiros cheios, copos vazios, pedaços de papel espalhados pelo chão, fitas coloridas, restos de bolas de gás. A árvore de Natal, apagada, tornou-se uma sombra cravejada de olhos vermelhos, que parecem observar você, com seu brilho escuro, toldado pela penumbra. Em cada um desses pequenos espelhos convexos, sua imagem está refletida. Só a sua, pois todos se foram. Ou todos dormem, não importa. Apenas você está aqui – insone e só.

Ao fundo, para além do tique-taque do relógio de parede, você ouve o som distante de uma sirene. Por um momento, pára, à escuta. Depois caminha até a janela, para olhar a noite. A madrugada vai alta e, por trás dos morros, as primeiras estrias vermelhas começam a surgir no céu. Mas seu olhar se prende à imensa árvore de Natal, no meio da Lagoa. O cone brilhante, com suas luzes inquietas, douradas e azuis, está plantado sobre a água como se fosse um templo. Até a estrela posta em seu cume se parece, de longe, com uma cruz. Essa imagem lhe transmite uma sensação de plenitude – mas também de solidão.

E, de repente, um pensamento lhe ocorre. Embora sempre olhe para a árvore, todas as noites desde que foi acesa, só agora pensa que ali dentro, sozinho, deve estar um homem. Você ouviu falar que há sempre alguém ali, um técnico em eletricidade talvez, de plantão para alguma eventualidade. E hoje, noite de festa, com certeza ele está lá.

Você aperta os olhos. Sim, agora observando melhor, quase pode enxergar sua silhueta por entre as luzes que se movem. Um homem. Sozinho numa bolha de silêncio, pairando sobre as águas escuras em seu barco mágico, feito de luzes ilusórias – que em breve serão apagadas.

Alguém como você. Como todos nós.

E, num instante, a paisagem deserta, o céu estriado, a quietude imensa do espelho d’água da Lagoa, o som distante da sirene que morre aos poucos, tudo isso se junta às luzes da árvore para formar um só sentimento, que cai sobre você como um manto, corporificando-se, materializando-se instantaneamente. Com imensa lucidez, você percebe num segundo o ser único que é,  o ser cativo, prisioneiro, condenado a viver sozinho no mesmo velho e conhecido corpo, pela vida inteira, plantado sobre um planeta que vaga no espaço sem fim, em meio a alegrias e tristezas que se alternam, como luzes piscando.

E, afastando-se da janela, você suspira. Mas não, não está triste. Apenas consciente – mais do que nunca – de sua própria individualidade. E, nessa madrugada, em que ainda paira no ar o espírito das Festas, você sorri, pensando: a solidão é uma dor limpa.

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